13 fevereiro 2011

Tiozinho

Tiozinho


Nesta quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011, completo 49 anos de idade. A cada manhã diante do espelho, custo a acreditar que estou prestes a me tornar um cinquentão. Mas os cabelos brancos, as rugas e a olheira não deixam dúvidas. Virei um tiozinho.
Meio século de vida aumenta as dores nas costas, diminui a audição, a vista enfraquece... Fisicamente, envelhecer é uma merda.
Mas pra compensar (será?), mentalmente fiquei mais rico. Estou me tornando o mala que, pra cada assunto, tem uma história antiga pra contar.
E hoje tomo decisões com uma facilidade que não tinha aos trinta anos. É o benefício da vivência, da experiência. Tenho mais jogo de cintura para lidar com os idiotas, por exemplo. Se antigamente eu me incomodava com eles, hoje simplesmente deixo pra lá. Não tenho tempo a perder com imbecilidades.
Crianças...Tomaram outro significado. Não são mais aqueles pentelhos barulhentos. Agora são explosões de energia, cujo som traz alegria à minha vida. Mas... Minhas crianças agora têm 24 e 21 anos. Não são mais crianças, justamente no momento em que sinto que preciso de crianças por perto.
Acho que entrei na fase pré-avô...
O mundo tomou outros significados. O preto e branco passou a ter tons de cinza. Não tenho mais posições radicais, compreendo que nada é definitivo, nada é totalmente bom nem totalmente ruim. E não existem deuses sobre a face da terra. Os homens e mulheres, não importa em que posição, são iguais a mim: cheios de defeitos. Incapazes de resolver os grandes problemas da humanidade ou do vizinho.
Não existem mais heróis. Nem santos.
Pois é...
Sou um brasileiro chegando aos cinquenta. Minha geração, de certa forma, perdeu o bonde. Éramos jovens demais em 1968 para participar das mudanças do mundo. Amadurecemos entre o amor livre e a Aids. Fomos crianças quando quase não havia televisão. Achávamos que no ano 2000 estaríamos vivendo em outros planetas. Vimos o computador nascer. Incorporamos o automóvel em nossas vidas desde pequenos. Adotamos o controle remoto, a internet e o celular sem dificuldade...
Minha geração é a da perplexidade.
E é assim, perplexo, que em 2012 chegarei aos cinquenta
Por enquanto, posso assegurar que jamais estive tão ativo. Tenho um BBom emprego, sou pós graduado em Gestão de Pessoas pela FGV e atualmente faço uma pós graduação em Gestão Ambiental na UFLA e construí uma rede de amigos pela Internet, cujo alcance e tamanho, desconheço. Escrevo eventualmente nos sites 
www.pArimeirahoranoticias.com.br , www.showdenoticias.com.br ,www.topmineiros.com.br, http://www.cachoeiraaltaonline.com.br e ainda escrevo mensalmente na revista impressa Top Mineiros e a pedido em outros sites.
É cansativo, é desgastante,  mas a cada dia, a cada semana, me dá o prazer de perceber que, do lado de lá deste teclado, existe inteligência.
Muito bem.
Todo fevereiro  a casca do Zé Renatinho fica mais velha. Mas o moleque continua lá, doidinho pra sacanear os cinquentões.
Vida longa ao moleque.
E tiozinho, é a mãe.

07 fevereiro 2011

A Deus a Religiosidade

Compartilho com vocês um texto de Luciano Pires apresentado na Rádio Brasil
Bem, sou Católico Apostólico Romano. Minha mãe é o que costumamos chamar de carola. Ela vai à missa todo domingo, participa das ações da igreja, de procissões e recebe em casa a Santa que fica ali na sala, com a velinha acesa. Ela me fez ir à missa todo domingo, até eu completar meus 18 anos. Fiz tudo que um católico tem que fazer: sou batizado, fiz o catecismo, crisma, participei daqueles grupos religiosos para jovens que foram uma febre nos anos setenta e até curso pra noivo eu fiz na igreja.
Reconheço que a formação cristã que recebi é responsável por muitos dos valores que ajudaram a que eu me tornasse quem sou. Com o tempo amadureci e um dia achei que não precisava de todos aqueles rituais para professar a minha religiosidade. Aliás, comecei a questionar essa tal religiosidade, essa coisa de fé no que não se pode ver. E me afastei da igreja, não mais freqüentando as missas, não confessando, não comungando e deixando meu lado espiritual de lado.
Fui cuidar das coisas materiais...
Mas uma coisa eu fiz, e fiz de forma séria: jamais abandonei os valores cristãos e nunca tive qualquer preconceito com pessoas religiosas, seja de que vertente forem. Para mim, religião é algo pessoal, cada um age como quiser e só vou me incomodar se o maluco quiser explodir um ônibus, arrancar dinheiro dos ingênuos ou aproveitar-se de sua posição pastoral para obter vantagens pessoais.
No fundo eu pensava o seguinte: quando chegar a hora eu retorno às minhas raízes e vou professar a fé de alguma forma.
Pois é... em minha jornada tenho encontrado pessoas realmente especiais entre os religiosos.
Um deles, ED RENÉ KIVITZ, pastor da Igreja Batista de Água Branca em São Paulo, teve uma inspiração divina para tratar do tema religião e espiritualidade.
No dia 1°/Abr/2010, o elenco do Santos – campeão paulista de futebol – foi a uma instituição para distribuir ovos de Páscoa para crianças e adolescentes, a maioria com paralisia cerebral. Mas uma parte dos atletas não saiu do ônibus. Robinho, Neymar, Ganso, Fábio Costa, Durval, Léo, Marquinhos e André teriam alegado motivos religiosos, pois a instituição era o Lar Espírita Mensageiros da Luz, de Santos-SP, cujo lema é “Assistência à Paralisia Cerebral“.
Constrangido, o técnico Dorival Jr. tentou convencer o grupo a participar da ação de caridade, sem sucesso. Outros jogadores participaram da doação dos 600 ovos, entre eles, Felipe, Edu Dracena, Arouca, Pará e Wesley, que conversaram e brincaram com as crianças.
Ed René Kivitz escreveu a respeito um texto chamado “No Brasil, futebol é religião”,
"Os meninos da Vila pisaram na bola. Mas prefiro sair em sua defesa. Eles não erraram sozinhos. Fizeram a cabeça deles. O mundo religioso é mestre em fazer a cabeça dos outros. Por isso, cada vez mais me convenço que o Cristianismo implica a superação da religião, e cada vez mais me dedico a pensar nas categorias da espiritualidade, em detrimento das categorias da religião.
A religião está baseada nos ritos, dogmas e credos, tabus e códigos morais de cada tradição de fé. A espiritualidade está fundamentada nos conteúdos universais de todas e cada uma das tradições de fé. Quando você começa a discutir quem vai para céu e quem vai para o inferno ou se Deus é a favor ou contra a prática do homossexualismo ou mesmo se você tem que subir uma escada de joelhos ou dar o dízimo na igreja para alcançar o favor de Deus, você está discutindo religião.
Quando você começa a discutir se o correto é a reencarnação ou a ressurreição, a teoria de Darwin ou a narrativa do Gênesis, e se o livro certo é a Bíblia ou o Corão, você está discutindo religião. Quando você fica perguntando se a instituição social é espírita kardecista, evangélica, ou católica, você está discutindo religião.
O problema é que toda vez que você discute religião você afasta as pessoas umas das outras, promove o sectarismo e a intolerância.
A religião coloca de um lado os adoradores de Allá, de outro os adoradores de Yahweh, e de outro os adoradores de Jesus. Isso sem falar nos adoradores de Shiva, de Krishna e devotos do Buda, e por aí vai. E cada grupo de adoradores deseja a extinção dos outros, ou pela conversão à sua religião, o que faz com que os outros deixem de existir enquanto outros e se tornem iguais a nós, ou pelo extermínio através do assassinato em nome de Deus, ou melhor, em nome de um deus, com ‘d’ minúsculo, isto é, um ídolo que pretende se passar por Deus.
Mas, quando você concentra sua atenção e ação, sua praxis, em valores como reconciliação, perdão, misericórdia, compaixão, solidariedade, amor e caridade, você está no horizonte da espiritualidade, comum a todas as tradições religiosas. E quando você está com o coração cheio de espiritualidade, e não de religião, você promove a justiça e a paz.
Os valores espirituais agregam pessoas, aproximam os diferentes, faz com que os discordantes no mundo das crenças se deem as mãos no mundo da busca de superação do sofrimento humano, que a todos nós humilha e iguala, independentemente de raça, gênero, e inclusive religião.
Em síntese, quando você vive no mundo da religião, você fica no ônibus. Quando você vive no mundo da espiritualidade que a sua religião ensina – ou pelo menos deveria ensinar, você desce do ônibus e dá um ovo de páscoa para uma criança que sofre a tragédia e miséria de uma paralisia mental.
Ed René Kivitz, cristão, pastor evangélico, e santista desde pequenininho.”
E é Rubem Alves quem diz:
Angelus Silesius, pseudônimo do poeta polonês Johannes Scheffer, disse um dia que o olho através do qual Deus me vê é o mesmo olho através do qual eu vejo Deus. E assim Deus virou vingador que administra um inferno, inimigo da vida que ordena a morte, eunuco que ordena a abstinência, juiz que condena, carrasco que mata, banqueiro que executa débitos, inquisidor que acende fogueiras, guerreiro que mata inimigos, igualzinho aos pintores que o pintaram. E aqui estamos nós diante desse mural milenar gigantesco onde foram pintados rostos que os religiosos dizem ser rostos de Deus. Cruz credo. Exorcizo.
Deus não pode ser assim tão feio...

Deu pra entender? Cada um trata da religião como acha que deve ser.
Respeito os que tem, os que não tem, os que rezam e os que não rezam, os que temem e os que não temem. Respeito quem acha que existe vida após a morte e quem acha que morreu, fedeu. Católicos, judeus, hindus, muçulmanos, budistas, xintoístas, evangélicos, umbandistas...
Não importa o rótulo. Minha religião é aquela que prega: não faça para os outros aquilo que você não gostaria que fizessem com você. E isso basta.
E pra terminar, mais Rubem Alves...
Deus é como o ar.
Quando a gente está em boas relações com ele, não é preciso falar.
Mas quando a gente está atacado de asma, então é preciso ficar gritando por Deus. Do jeito como o asmático invoca o ar.
Quem fala com Deus o tempo todo é asmático espiritual.
É por isso que anda sempre com Deus engarrafado em Bíblia e noutros livros e coisas de função parecida.
Só que o vento não pode ser engarrafado...